O Neolítico
No início do Período Neolítico, por volta de 12 mil anos atrás, os grupos de caçadores e coletores haviam acumulado uma razoável bagagem cultural. A experiência lhes ensinara a identificar quais animais podiam caçar e as plantas que eram comestíveis ou úteis no tratamento de doenças. Em seu esforço para compreender os fenômenos da natureza, os homens desse período também haviam desenvolvido crenças religiosas. A ausência da escrita no Período Neolítico impede que tenhamos mais conhecimentos sobre a experiência religiosa dos povos pré-históricos.
Contudo, a análise de estatuetas, pinturas em cavernas, sepulturas e peças funerárias, entre outros achados arqueológicos, indica a existência de rituais e entidades religiosas ligados à natureza e à agricultura. Durante o Neolítico, o ser humano ampliou sua intervenção na natureza. Além de caçar e coletar frutos e sementes, ele começou a cultivar plantas necessárias para sua subsistência e a domesticar animais.
A atividade agropastoril forneceu aos indivíduos uma fonte estável de alimento, contribuindo para que eles se fixassem nas áreas mais férteis e construíssem casas de madeira, pedra, barro ou adobe (tijolo de barro). A agricultura desenvolveu-se em maior ou menor grau, em períodos relativamente próximos, em diversas regiões, mas com grande importância e impacto cultural e socioeconômico na China, na América Central, no Peru e no Oriente Próximo, em especial na região do Crescente Fértil. Essa região estende-se desde o Vale do Rio Nilo, no Egito, até a Mesopotâmia, área cortada pelos rios Tigre e Eufrates e hoje correspondente aos territórios do Iraque e da Síria.
Conhecidas como Revolução Neolítica ou Revolução Agrícola, as mudanças relacionadas ao início da agricultura ampliaram o domínio do homem sobre a natureza, resultando na maior produção de alimentos e no consequente crescimento populacional. Acredita-se que foi também nesse período que as comunidades tenham começado a desenvolver a técnica da cerâmica, endurecendo o barro no fogo.
Os utensílios de cerâmica eram utilizados para preparar e armazenar alimentos e bebidas, o que permitiu às comunidades produzir excedentes e estocá-los, descoberta que impulsionou o desenvolvimento da agricultura. Além de caráter utilitário, as peças de cerâmica tinham funções decorativas e rituais, servindo também de urnas funerárias.
A vida nas aldeias neolíticas
As primeiras comunidades estabelecidas na região do Crescente Fértil eram constituídas de poucas famílias extensas, conhecidas como famílias clânicas ou clãs. A reunião de diferentes clãs formava uma tribo, que se distribuía por várias aldeias. O poder político como conhecemos hoje ainda não existia. O papel do líder era administrar eventuais conflitos. Os homens que realizavam essa função eram escolhidos entre os chefes das famílias por suas habilidades. Com o tempo, surgiu a figura do patriarca, escolhido entre os mais valentes e sábios chefes de família. Líder religioso e político, o
patriarca tinha como uma das principais tarefas proteger a comunidade contra os ataques dos grupos rivais, que investiam contra as aldeias em busca de alimentos e de animais domesticados.
A economia de uma comunidade neolítica era de subsistência, gerando poucos excedentes. Além da agricultura, criavam-se cabras, porcos e bois. O cão, já domesticado, era um valioso auxiliar no pastoreio. Entre as plantas cultivadas estavam o trigo e a cevada, produtos essenciais para a alimentação dos habitantes das aldeias. Além disso, os homens do Neolítico passaram a utilizar fibras vegetais (linho) e lã para fazer vestimentas, reduzindo, assim, o uso de peles de animais.
Nas aldeias, o cultivo dos campos, o pastoreio e as atividades de tecelagem e cerâmica eram exercidos por todos os grupos familiares, que dividiam entre si os frutos do trabalho. A divisão de trabalho reduzia-se às diferenças na distribuição de tarefas por sexo e por idade.
A formação das cidades
Com o tempo, as aldeias foram cercadas com muros de proteção. Observando a natureza, seus habitantes aprenderam a desenvolver novas tecnologias. Por exemplo, conhecendo o regime das chuvas e das estiagens, os grupos humanos passaram a drenar os pântanos para ampliar as áreas de cultivo, a construir diques para conter as enchentes e a abrir canais de irrigação. Com a invenção do arado, por volta de 5000 a.C., foi possível agregar nutrientes naturais ao solo e torná-lo mais produtivo.
Técnicas de irrigação, inovações no cultivo da terra e mudanças nos métodos de trabalho possibilitaram um aumento considerável na produção de alimentos, gerando um volume maior de excedentes. O aumento das colheitas teve consequências importantes. Com mais alimentos disponíveis, foi possível melhorar as condições de sobrevivência, o que resultou num acentuado crescimento populacional. Além disso, os camponeses puderam trocar excedentes agrícolas por arados e outros objetos. Surgia, assim, o comércio, inicialmente com base no escambo, isto é, na troca de produtos, sem o uso de dinheiro. O crescimento das aldeias deu origem às primeiras cidades. Contudo, as cidades não eram apenas aldeias maiores com uma população numerosa. Enquanto as aldeias possuíam uma estrutura simples de sobrevivência, baseada em relações igualitárias, nas cidades surgiram chefes políticos, com autoridade para administrar a vida social. Além disso, muitas atividades foram criadas para atender às necessidades geradas pelo cotidiano dos centros urbanos, como as de artesãos, guerreiros e comerciantes.
A criação das cidades é geralmente atribuída aos sumérios, que viviam no sul da Mesopotâmia. No entanto, núcleos urbanos também surgiram em todo o Crescente Fértil, na Índia e na China. Entre as cidades mais antigas, podemos citar Jericó, na Palestina (núcleo urbano habitado há 11 mil anos, nas proximidades do Rio Jordão), e Çatal Hüyük, na Turquia, fundada há aproximadamente 10 mil anos.
Referências:
Braick, Patrícia Ramos História : das cavernas ao terceiro milênio / Patrícia Ramos Braick, Myriam Becho Mota. — 4. ed. — São Paulo: Moderna, 2016. Obra em 3 v.
Was this helpful?
0 / 0