A organização básica da vida

Ao perceber-se o turvamento de uma solução nutritiva com o passar de alguns dias, é intrigante
entender o que ocorre de fato no líquido.

A organização básica da vida

Ao perceber-se o turvamento de uma solução nutritiva com o passar de alguns dias, é intrigante entender o que ocorre de fato no líquido. Do mesmo modo como se inventou uma forma diferente de observar o céu e perceber detalhes nunca antes vistos, os seres vivos também passaram a ser observados em seus detalhes invisíveis a olho nu. A evolução tecnológica dos instrumentos de observação nos permitiu perceber e entender detalhes cada vez menores, que chegam hoje ao nível molecular.

A partir do século XVI a Europa passou por grandes transformações, que mudaram profundamente o pensamento ocidental. Galileu Galilei (1564-1642) empreendia uma revolução que incluía a criação de novos instrumentos ópticos. Não foi apenas a luneta que se desenvolveu nessa época, mas também outras associações de lentes. Entre elas, surgiu o microscópio, um aparelho que permitia ver o que era muito pequeno. Com esse novo aparelho, foi possível explorar de perto, e em detalhes, materiais biológicos. Assim, um novo campo do conhecimento passou a se desenvolver e hoje temos uma compreensão muito diferente, e com grande riqueza de detalhes, da base microscópica da vida. Embora ainda exista muito a descobrir e compreender, podemos estudar a base da vida em detalhes antes inacessíveis, desde a organização das células até as substâncias
e os elementos químicos que as compõem.

O termo célula foi cunhado pelo cientista inglês Robert Hooke (1635-1703) ao analisar um corte fino de uma amostra de cortiça em um aparelho mais desenvolvido. Ele observou uma estrutura, invisível a olho nu, que lembra um favo de mel. O nome escolhido por Hooke denominava o espaço vazio, as cavidades observadas. Mais tarde, descobriu-se que aqueles espaços existiam porque tinham estado preenchidos por material vivo. Com o tempo, o termo “célula” passou a designar apenas estruturas vivas. As observações realizadas por Hooke foram criticadas por um modesto comerciante holandês, Antonivan Leeuwenhoek (1632-1723). Em 1675 ele descreveu “pequenos animais vivos” recolhidos em água de poças de chuva, os quais não eram visíveis a olho nu. Suas observações tinham grande precisão, mesmo trabalhando com um microscópio de lente única. Em 1683 ele analisou a boca de um homem e descreveu bactérias na forma de cocos e bacilos.

Foi, entretanto, apenas no século XIX que as observações de células ganharam a forma de uma teoria que se tornou famosa, a teoria celular. Em sua formulação moderna, a teoria celular é sustentada por quatro afirmações amplamente comprovadas. Ela estabelece que:

  • todos os seres vivos do planeta são formados por uma ou mais células que apresentam uma organização básica comum;
  • toda célula se origina de outra célula;
  • toda informação hereditária do organismo está contida em suas células; quando elas se dividem, dando origem a células-filhas, estas recebem toda a informação hereditária das células parentais;
  • no interior das células ocorre o grande conjunto de reações químicas que mantêm os organismos vivos, como as reações de oxidação dos alimentos e a fabricação de substâncias, como as proteínas.

A teoria celular foi proposta na década de 1830 por dois microscopistas alemães, Matthias Jakob Schleiden (1804-1881), botânico, e por Theodor Schwann (1810-1882), médico que pesquisava diversos processos metabólicos em animais. Ela foi formulada originalmente nos seguintes termos: “As partes elementares dos tecidos são células, semelhantes no geral, mas diferentes na forma e na função. As células têm ocorrência universal nos seres vivos, e seu estudo é fundamental para a compreensão do desenvolvimento de animais e vegetais”.

Na segunda metade do século XIX a teoria celular enfrentou diversos questionamentos, entre eles o do botânico alemão Julius von Sachs (1832-1897), que trouxe importantes contribuições às pesquisas em fisiologia vegetal, além de fazer várias descobertas sobre a fotossíntese.

Von Sachs discordava da ideia de que um organismo fosse apenas a soma de suas células e propôs o que ficou conhecido como teoria orgânica. De acordo com essa teoria, o conjunto de células de um organismo adquire propriedades muito diferentes daquelas que as células isoladas possuem, o que chamamos hoje de propriedades emergentes. A formulação moderna da teoria celular admite parte das duas teorias originais, tanto a de von Sachs como a de Schleiden e Schwann.

Referências:

Bizzo, Nélio Novas bases da biologia / Nélio Bizzo. – 2. ed. – São Paulo : Ática, 2013. Conteúdo : v. 1 Células, organismos e populações – v. 2 Biodiversidade – v.3 Corpo humano, genes e ambiente

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