As civilizações dos grandes vales fluviais
A história da civilização ocidental teve origem no Oriente, há mais de 5 mil anos. Nessa região, alguns povos, já sedentarizados, haviam elaborado a escrita, desenvolvido formas complexas de sociedade e atividades organizadas de trabalho, produzido notáveis obras artísticas, organizado governos com estruturas bem definidas e leis que disciplinavam a vida e os interesses das comunidades. A complexidade dessas culturas permite aos historiadores chamá-las de “grandes civilizações”. Seria o Oriente Médio, portanto, o “berço da civilização ocidental”.
Os cientistas já mapearam parcialmente as grandes migrações ocorridas na Terra, quando o clima se alterou em decorrência do fim da última glaciação no final do Período Neolítico. Não por acaso, as mais antigas civilizações desenvolveram-se às margens de grandes rios. Esse fenômeno se manifestou em várias regiões: Egito, Mesopotâmia, Índia e China são chamados “civilizações hidráulicas”.
A civilização mesopotâmica
Geograficamente, a Mesopotâmia (atual Iraque) era a região do Oriente Médio compreendida entre os rios Tigre e Eufrates, com características semelhantes às do Egito, pois os dois rios forneciam facilidades excelentes ao transporte de mercadorias e à irrigação das terras. O regime dos rios era condicionado pelo derretimento do gelo das montanhas na Ásia Menor, onde se situam suas cabeceiras, cujas cheias inundavam as margens, estimulando a abertura de canais de irrigação e a construção de diques. Porém, essas cheias eram mais irregulares.
Por ser uma área aberta e de transição, uma multiplicidade de povos se estabeleceu nessa região: sumérios, acadianos, amoritas, assírios, caldeus etc. Em geral, eram semitas, que lutavam pela posse das terras férteis. Nas planícies, no baixo curso dos rios, os agricultores eram frequentemente atacados, desde remotas épocas. Os povos dos planaltos, por sua vez, viviam mais do saque e do pastoreio.
Nas sociedades hidráulicas da Mesopotâmia, a disputa pela posse das melhores áreas cultiváveis e da água foi muito intensa. Os povos mais fracos militarmente foram, então, submetidos pelos mais fortes, que se valeram da violência para reduzi-los à escravidão e ao trabalho forçado.
As cidades-Estado que surgiram disputavam permanentemente as terras aráveis, transformando a região em um cenário de lutas constantes. Acredita-se que a revolução urbana, em que a região foi provavelmente a pioneira, tenha se iniciado devido à necessidade de proteção. Com a expansão do comércio, facilitado pela sua localização estratégica, e o contato constante entre os povos, as cidades foram construídas como importantes centros mercantis e de defesa.
Um grande número de cidades surgiu no terceiro milênio antes de nossa era, ao longo dos rios Tigre e Eufrates, como Ur, Uruk, Lagash, Acad e outras.
Nesse período, as cidades eram independentes politicamente. Contudo, eram dominadas por sacerdotes e guerreiros. Nelas, o soberano, representante dos deuses e proprietário da maior parte das terras, recebia tributos e a maior parte do saque nas guerras.
Há dois principais períodos na história política da Mesopotâmia:
Primeiro Período Babilônico (por volta de 4000 a 1275 a.C.), com a fundação de cidades como Lagash, Ur, Uruk e a primitiva Babilônia;
Período Assírio (1275 a 538 a.C.), incluindo os períodos de domínio da Caldeia (de 612 a 538 a.C.) e também o Segundo Período Babilônico, sob o reinado de Nabucodonosor (604 a 561 a.C.).
Centro comercial de grande importância, por controlar o trânsito pelo rio Eufrates, Babilônia tornou-se uma potência militar. O rei Hamurabi (1810 a 1750 a.C.) conquistou longínquas regiões ao norte, e a Mesopotâmia conheceu um período de grande atividade comercial, com a fundação de novas cidades. Para manter o seu poder, bem como regulamentar as relações sociais, o rei decretou um código para todo o seu império – o Código de Hamurabi, o qual configura como um modelo de jurisprudência na língua babilônica. Concebido há 37 séculos, o código legislava a partir da existência de três grupos sociais distintos: os ricos, o povo e os escravos. Portanto, não havia igualdade de todos perante a lei, como em princípio ocorre no mundo contemporâneo.
Curiosamente, os delitos cometidos pelos ricos eram punidos mais severamente, e os escravos tinham alguns direitos garantidos. O código garantia grande independência da mulher em relação ao marido, mas este podia castigá-la por infidelidade. Os filhos herdeiros ficavam com os bens dos pais, mas as mulheres tinham direito a um dote.
Contudo, novas invasões aconteceram no século XVI a.C., as quais devastaram toda a região, destruindo a hegemonia da Babilônia. Por exemplo, a invasão dos assírios, que preponderaram na Mesopotâmia em decorrência da superioridade militar (carros de combate, catapultas, aríetes, cercos e assaltos de cidades). Esse povo se destacou historicamente pela crueldade no tratamento dos prisioneiros. A partir do alto vale de Acad, onde fundaram a cidade de Assur, comandados pelo rei Sargão II (721 a 715 a.C.) – e seus sucessores Senaqueribe e Assurbanípal –, os assírios conquistaram toda a Mesopotâmia e anexaram parte do vizinho reino judeu.
Com as guerras, o número de escravos aumentou muito, e um poderoso exército mantinha a dominação, aterrorizando as populações. Tal desumanidade fez com que os povos dominados se levantassem contra a opressão dos assírios e destruíssem a Assíria.
Novamente o Império Babilônico
A nova dinastia babilônica, iniciada por Nabupolasar (626 a 605 a.C.), teve curta duração, embora houvesse notável desenvolvimento sob o governo de seu filho Nabucodonosor (605 a 563 a.C.). Seus domínios se estenderam por toda a Mesopotâmia. Nabucodonosor conquistou o reino de Judá e trouxe judeus cativos para a Babilônia, episódio relatado na Bíblia. Também determinou a construção dos famosos Jardins Suspensos, uma das “sete maravilhas do mundo antigo”, segundo os gregos. A economia passou por grande expansão com o uso das rotas comerciais, tendo como epicentro a cidade da Babilônia.
Após a morte de Nabucodonosor, seus sucessores envolveram–se em lutas pelo poder, provocando debilidade estatal e militar. Os comandantes defendiam seus próprios interesses, o que possibilitou aos persas, comandados por Ciro, a conquista da Babilônia, em 539 a.C.
Religião e cultura na Mesopotâmia
Politeístas como os egípcios, os povos mesopotâmicos dedicavam aos seus deuses templos, oferendas e sacrifícios. Uma das preocupações era explicar a origem do mundo por meio de mitos envolvendo deuses como Shamash, o Sol; Ishtar, deusa do amor, e Marduc, o criador dos homens. A atenção geral era voltada para os fatos do dia a dia. Os sacerdotes faziam previsões diárias, interpretando a posição dos astros no céu, e editavam horóscopos, que interferiam na vida das pessoas, prevendo o futuro etc.
A complexidade das relações econômicas urbanas favoreceu o desenvolvimento cultural. A escrita mesopotâmica era feita por meio de ideogramas simplificados, escritos em tábuas de argila com o uso de um estilete em forma de cunha. Por isso, é conhecida como escrita cuneiforme. Os povos mesopotâmicos dividiram o dia em 24 horas (quatro períodos de seis horas) e segmentaram o ano com base nos ciclos da Lua (calendário lunar).
Dada a escassez de materiais de construção resistentes, a arquitetura e a estatuária da região não se situam entre as mais ricas da Antiguidade. Os engenheiros locais dispunham apenas de tijolos de barro. Além dos Jardins Suspensos, destacaram-se os “zigurates”, construções altas que serviam de templo e de observatório astronômico. Construídas em forma de torre, na época sumeriana, eram pirâmides de faces escalonadas.
A habilidade no uso dos números promoveu as operações matemáticas e a geometria aplicada. Outras realizações culturais desses povos foram estudos de astronomia, divisão de ângulos, calendário de sete dias e divisão do círculo em graus. Na literatura, sobreviveram narrativas, como a do herói Gilgamesh, aventura de amor e coragem desse herói semideus, cujo objetivo era conhecer o segredo da imortalidade. Muitos estudiosos acreditam que ele aparece na Bíblia com o nome de Noé. A biblioteca do rei Assurbanípal era famosa pelo número e pela diversidade de documentos e livros.
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