As civilizações mediterrâneas orientais
Nem todas as civilizações da Antiguidade oriental estavam associadas à agricultura, à pecuária e ao artesanato. Alguns povos, como os fenícios, também semitas, dedicavam-se principalmente ao comércio no Mediterrâneo oriental. Oriundos da região da Caldeia, na Mesopotâmia, os fenícios estabeleceram-se no atual território libanês, uma estreita faixa de terra entre montanhas e o Mediterrâneo.
As façanhas marítimas e comerciais dos fenícios tornaram–nos famosos. Além disso, eles colaboraram enormemente para o progresso intelectual humano com a criação da escrita fonética.
Vários fatores estimularam a expansão comercial e marítima da Fenícia. O cedro, abundante nas montanhas do Líbano, era a madeira ideal para a construção naval. Contudo, com exceção dos vales, o solo pobre não possibilitava alcançar uma produção agrícola satisfatória. A solução foi lançar-se ao mar à procura de meios de subsistência e riquezas. A localização estratégica da Fenícia, entre o Egito, “o celeiro da Antiguidade”, a Ásia Menor e a Mesopotâmia, favoreceu o desenvolvimento do comércio. Marinheiros e artesãos eram numerosos na população, que trabalhava para uma aristocracia formada por notáveis mercadores, os quais, por sua vez, monopolizavam o poder político nas cidades-Estado.
Na Fenícia nunca houve uma unidade político-administrativa. Havia cidades-Estado, como Biblos, a primeira a se destacar comercialmente por explorar as rotas do Mediterrâneo oriental. Por volta de 2500 a.C., Biblos alcançou tamanha importância comercial que se tornou preponderante na Fenícia. Posteriormente, por volta de 1400 a.C., a rival Sidon alcançava supremacia naval e militar ao atingir mercados no Mediterrâneo ocidental. Tiro foi a terceira cidade a se destacar ao acumular enormes riquezas; atuava como intermediária entre o Egito e os mercados do Oriente. Fez alianças com assírios, babilônios e persas para a prática do comércio e para o transporte marítimo de tropas; garantiu, assim, certa autonomia política em relação aos povos conquistadores.
Os fenícios desenvolveram extraordinariamente o artesanato e produziram mercadorias de grande procura na região mediterrânea, como armas, vasos, adornos de cobre e bronze, tecidos brocados, espelhos e objetos de vidro colorido. Fabricaram uma tinta púrpura, obtida de moluscos marítimos (múrice), para tingir tecidos, o que lhes garantiu bons lucros.
Dotados de enorme conhecimento técnico-naval, dominaram as rotas mediterrâneas, ultrapassaram o estreito de Gibraltar em direção ao Atlântico e alcançaram as Ilhas Britânicas. Como já vimos, acredita-se mesmo que tenham feito a primeira viagem de circum-navegação da África, muitos séculos antes dos portugueses.
Os fenícios alcançaram fontes produtoras de matérias-primas, como cobre e estanho, na península Ibérica. Estabeleceram várias cidades-colônia no litoral mediterrâneo, que funcionavam como entrepostos comerciais. No norte da África, fundaram Cartago, futuramente a grande rival de Roma. Cartago era um entreposto de mercadorias que, produzidas na África Central, atravessavam o deserto do Saara em caravanas. Escravos, peles e penas, ouro, marfim e madeiras preciosas eram alguns dos muitos produtos que chegavam a Cartago.
Os fenícios foram os criadores da escrita fonética, um sistema de escrita no qual cada sinal representa um som (alfabeto). Essa escrita facilitava consideravelmente as transações comerciais e os trabalhos de contabilidade. O alfabeto fenício compunha-se de 22 sinais, correspondentes apenas às consoantes, pois se tratava de uma língua semita. Mais tarde, os gregos introduziram os símbolos correspondentes às vogais. Com algumas modificações, posteriormente, deu origem ao alfabeto latino, utilizado pela grande maioria dos povos ocidentais.
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