A Biologia como ciência
Embora os estudos sobre os seres vivos tenham sido conduzidos desde a Antiguidade por filósofos conhecidos, como Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.), a Biologia se constituiu como ciência há menos tempo do que outras disciplinas, como a Física, por exemplo. A Ciência moderna só começou a se consolidar nos séculos XVI e XVII, quando os pensadores da época passaram a expor suas ideias em academias. Era nesses espaços que aconteciam as discussões científicas e diferentes ideias eram debatidas e contestadas. Essas discussões ajudaram a definir as regras para produzir conhecimento científico, o qual não podia ser construído simplesmente com base em ideias e crenças. Para que o conhecimento obtivesse o estatuto de ciência, era necessário seguir um conjunto de procedimentos preestabelecidos e aplicáveis por qualquer pessoa. A primeira etapa consistiria na observação de um fenômeno natural e na proposição de uma explicação, que deveria ser fundamentada nos fatos observados e envolveria a experimentação; ela teria, portanto, de ser posta à prova. A observação dos fatos levaria à elaboração de hipóteses, que são explicações científicas teóricas ainda não comprovadas. A experimentação e o debate das hipóteses poderiam fortalecer ou derrubar as ideias iniciais. E, se muitas delas fossem derrubadas, outras se fortaleceriam e passariam a constituir teorias. Com o tempo, novos fatos poderiam levar ao abandono das teorias aceitas em determinada época e novas hipóteses seriam propostas.
Um pouco de história da Biologia
Em 1703, foi apresentada na Academia Real da França, em Paris, uma explicação para a origem dos fósseis de animais marinhos que despertava muitas dúvidas. Como poderiam ser restos de seres vivos marinhos, uma vez que eram encontrados no alto de montanhas, centenas de metros acima do nível do mar? De que maneira seres marinhos poderiam deixar marcas tão distantes do mar? O renomado matemático e astrônomo francês Philippe de La Hire (1640-1718) propôs uma explicação para o fato. Baseado na crença da época, La Hire propôs a existência de peixes e de outros animais, que viveriam nas águas do subsolo. Ao subir, o vapor carregaria consigo minúsculos ovos, impossíveis de serem observados a olho nu. Em contato com o ar frio da montanha, o vapor condensaria e abasteceria as fontes de água. Os ovos microscópicos ficariam alojados em fendas de rochas, originando novos indivíduos. Com o passar do tempo, o peso das camadas superiores de rochas esmagaria os seres vivos, formando os fósseis de peixes, conchas e crustáceos.
As explicações de Philippe de La Hire foram examinadas por Antonio Vallisneri (1661-1730), professor da Universidade de Pádua, na Itália. Em seu livro Dei Corpi marini che su i monti si trovano, publicado em 1727, Vallisneri contesta a tese de Philippe de La Hire e critica a falta de observação e de experimentação para a apresentação da hipótese. Conforme o professor italiano havia demonstrado em um estudo anterior, as águas das fontes eram abastecidas pelas chuvas, e não por vapores do subsolo, como pensava La Hire.
Vallisneri criticava a mera suposição da existência de animais vivendo em águas do subsolo, sem nenhuma observação que lhe servisse de base. Para ele, mesmo que essas ideias estivessem corretas, os ovos dos seres vivos não poderiam atravessar camadas de rochas de centenas de metros. Além do mais, entre os fósseis encontrados havia animais que não se reproduziam por ovos (como é o caso de certos tubarões) e, ainda, um fóssil extremamente bem conservado de um dos peixes, em cujo interior era possível identificar ovos perfeitamente visíveis a olho nu. Portanto, os ovos microscópicos também eram uma simples suposição. Ele, então, incluiu em seu livro de 1727 uma prancha com a reprodução em desenho do fóssil ao qual se referia. Segundo as observações de Vallisneri, os fósseis pertenceriam a animais que viviam nos mares, e não no subsolo.
Referências:
Bizzo, Nélio Novas bases da biologia / Nélio Bizzo. – 2. ed. – São Paulo : Ática, 2013. Conteúdo : v. 1 Células, organismos e populações – v. 2 Biodiversidade – v.3 Corpo humano, genes e ambiente
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